sexta-feira, 7 de abril de 2006

Inspirado pelo mestre trasgo, vou contar uma das minhas.

O carrinho
(Elfo)

Eu, que não sou trasgo nem nada, sempre fazia as coisas por outras vias. Como na vez do carrinho, acredito que a lembrança mais antiga que eu tenho.

Quando meu pai trabalhava no BCN, todo ano a gente ia pra colõnia de férias em Itanhaém. Era uma beleza. Acontece que numa das vezes, apareceu um menino pra me infernizar.

Eu tinha ganhado no Natal um carrinho que era coisa de louco: de controle remoto com fio. Era bem pequeninho, vermelhinho. Apertando um botão, ele ia para a frente e outro, ele voltava para trás. Não virava para os lados, mas puxando-se o fio era possível realizar uma baliza.

Como um bom homenzinho de três anos, já tinha aprendido que menino educado não bate nos outros. Então, num acesso de fúria, eu taquei o carrinho no cabelo do safado e apertei o botão - diz minha mãe que dando risada.

As duas mães correram para acudir, minha mãe roxa de vergonha. Puxaram o carrinho e nada. Aí chegaram os pais, meu pai roxo, mas de rir escondido. Tentaram e nada de desenrolar a rodinha. Tiveram de ser drásticos: o pai dele arranjou uma tesoura e deu um jeito ali mesmo. O menino, que era loirinho de cachinhos, o orgulho da mamãe, saiu com um baita caminho de rato no coco.

E foi só então que eu comecei a chorar, porque eu apertava o botão e o carrinho não saía do lugar. Mas meu pai logo deu jeito nisso.