quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Duas rodas

(Elfo)



Não sei se foi por coragem ou loucura, mas de repente estava eu lá, montado numa moto em plena Marechal Floriano, hora do rush. Eu, que nunca me meti no trânsito. Eu, que nunca pilotei a mais de 20 km/h na pistinha da autoescola.

Poucos minutos antes, tinha entrado na concessionária, nervoso, ansioso. A moto não estava à vista, mas a vendedora me viu rápido e veio cumprimentar.

Sentamos na mesa dela e vi que estava tudo pronto: nota fiscal, manual, chave e uma etiqueta "Bruno". Assinei os papéis e ela ligou para um ramal: "traz a 3580 que o cliente está aqui para buscar". E então ela veio, vermelha como eu queria. E nada no mundo vai comprar o gostinho da hora em que tomei as chaves na mão e ouvi: "é sua!".

Minha.

Empurrei-a para fora da loja e fiquei na entrada, capacete na mão, curtindo o momento. Logo chegou o meu sempre companheiro de aventuras, com um sorriso que só não era maior que o meu. Grande De Niro!

Combinamos que ele sairia de carro e eu iria atrás dele. Conduzi a moto até o meio-fio e, quando ouvi a buzina e vi passar o Golzinho, bateu a adrenalina: hora da verdade. Arranquei e saí. Cheguei de ônibus e saí de moto.

Pensei que ia entrar em pânico, que ia me secar a boca, que não ia dar conta, que ia amarelar no meio dos carros todos, que ia morrer na primeira esquina e virar capa da Tribuna. Nada. Lá estava eu, em cima da minha moto. E ela não me decepcionou: macia, potente.

Ah, claro que fiz umas barbeiragens, deixei morrer, me atrapalhei com a seta, mas nada digno de um Jerico. Cheguei na Vila Áurea são, salvo e feliz. Meus primeiros cinco quilômetros rodados. De lá, armamos uma operação e o trasgo fez o favor de conduzir minha vermelha até o Bairro Alto, que eu também não estou abusando da sorte tanto assim.

Mais tarde, já em casa, quando todos estavam dormindo, abri a porta em silêncio e fui para a garagem. Sentei na moto e fiz um agradecimento silencioso a Deus. Não imaginava que exatamente um ano depois de ser quase assassinado eu me sentiria tão vivo de novo.

Senhores, eu tenho uma moto.


* * *
Tem muito mais além disso, a aventura foi grande. Conto com detalhes para quem me acompanhar, um dia desses, numa dose de uísque no Sailor.

* * *
Meu agradecimento especial ao amigo trasgo. Tomei uma lição de parceria ontem, fico te devendo essa.