segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Acabou

(Elfo)

Sábado eu saí de casa sabendo o que ouviria da boca dela. Fiz o caminho até lá querendo encontrar algum bandido que me desse um tiro no peito e acabasse logo com tudo. Mas eu prometi enfrentar a vida de peito aberto, e dei cada passo, cada doloroso passo em direção ao fim dos meus sonhos. Eu bebi até o fim do veneno que me deram, acho que um pouco para exorcizar de uma vez a dor do meu peito. Me livrar de tudo de uma vez.

Faz um tempo que eu esperava por isso, calado, sem falar nada para ninguém. Adiei enquanto pude, fechei os olhos. Me iludi, fiz planos, inventei histórias. Não por idiotice, mas por opção minha. Por fraqueza, quem sabe. Mas mesmo que soubesse o que iria ouvir, ouví-lo foi mais difícil do que pensava. E eu não reconheci a mulher que conversou comigo. Nunca a vi tão amarga, tão cruel, tão fria.

Disse que ela está cansada de tudo, que está com ódio de todos e que não faz mais questão de agradar quem ela não gosta. Que ela fez parte da vida de todos, mas ninguém mais faz parte da vida dela. Que se decepcionou com tudo, que quer ser medíocre como todos são. E eu entendi que isso me inclui.

De outras pessoas eu não ligo que falem mal, que inventem intrigas, que queiram estragar com a vida dos outros. Mas nunca eu imaginei que fosse ouvir o que ouvi vindo dela. Que eu sou falso, medíocre, que ela me odeia, que está cansada de mim. O amor falha às vezes, eu sei, mas eu não recebi nem sequer um pouco de compaixão.

São quase seis anos da minha vida rasgados e jogados no lixo, seis anos de sorrisos, de lágrimas, de esperas e reencontros. Doeu muito ser desprezado, escurraçado por quem eu julgava ser a mulher da minha vida. Talvez mais do que o que fez a mim, doeu ver o que ela está fazendo consigo própria. Porque eu a amo mais que a mim.

E eu fui embora, sem aliança no dedo, sem sonhos no coração. Achei perfeito que estivesse chovendo tanto, porque a rua estava vazia e ninguém viu minhas lágrimas. No meio do vento e da água que me castigaram, eu gritei. Gritei de dor, de desespero, de medo. E de raiva.

Só por favor não me façam muitas perguntas, e não me torturem com esperanças falsas, mesmo porque eu não quero mais esperanças com ela.

E não se preocupem, foi um golpe duro, mas não eu não vou me deixar derrubar. A vida pode ser uma merda às vezes, mas eu ainda aposto todas minhas fichas nela. E a vida continua e - Deus vai me ajudar, sempre ajuda - pode continuar até melhor. Acabou.