quarta-feira, 15 de março de 2006

Uma breve história na tela
(Trasgo)



Ser um viciado em jogos eletrônicos não é das tarefas mais fáceis para quem mora no Brasil. Se um console recém lançado como o Xbox 360 já está difícil de adquirir devido ao seu alto custo, há 15 anos a situação era ainda pior. Na início década de 80, um Atari 2600, a coqueluche do momento, só chegava em solo tupiniquim por meio de “executivos de fronteira”. Mas havia os clones, como o Dactar II, que fazia a alegria da família por um custo bem menor.

De posse de um desses consoles, que ficaram bastante populares nos idos de 1985, a diversão estava garantida. Jogos como River Raid, Enduro, Pitfall, Hero e Decathlon faziam os proprietários perderem horas e horas na frente da televisão – que, segundo as avós da época, iria estragar se você não parasse de jogar. Até que existia um fundo de verdade nos conselhos dos mais velhos. Mas era a fonte de energia do videogame que queimava. A dica era ter mais de uma. Quando uma esquentava, após cerca de uma hora, era só trocar e continuar a jogatina.

Decathlon é o tipo de jogo que mereceria um estudo. Ele despertava, ao mesmo tempo, a sensação de prazer e dor, tanto física quanto emocional. O prazer de jogar acabava quando seu amigo lhe vencia por milésimos de segundo uma corrida de 110 metros com barreiras. Ok, ele foi mais rápido. Mas precisava quebrar o controle? Decathlon era basicamente um jogo de esporte no qual ganhava quem tivesse menos apego aos bens materiais, como os joysticks. Claro que, depois de quase afundar seus pais em dívidas, ficava combinado que cada um levaria seu próprio controle para jogar na casa do vizinho. Também era importante ter uma luva no início. Depois, naturalmente, criava-se um cascão na palma da mão e a dor física deixava de ser um obstáculo.

Perto do fim da década do 80, a “geração 8 bits” começou a invadir as salas de estar brasileiras. Tudo por causa do NES, conhecido como Nintendinho, que chegou a ter mais de 90% do mercado. Era tudo lindo, colorido e divertido. Agora as histórias tinham fim. Os jogos deixaram de ser basicamente faça-mais-pontos-quanto-puder. Títulos como Mario, Megaman e Contra traziam enredos bem construídos, como matar o “chefão de fase”. Era a geração de jogos baseada na filosofia de Chuck Norris. O objetivo era distribuir sopapos e pontapés para chegar ao magnífico fim que pouco importava.

Eis que, no começo dos anos 90, surge um das mais brilhantes eras para os amantes de jogos. A Nintendo finalmente tinha uma rival, a Sega. Aqueles laços de amizades criados durantes anos jogando Atari e Nintendinho estavam por um fio. Existiam os “nintendistas” e os “seguistas”. E isso poderia ser um fator fundamental na escolha de quem iria passar a tarde em sua casa testando aquele cartucho que acabara de chegar na locadora. A “geração 16 bits” foi uma das mais profícuas em bons títulos. E para os dois times.

As disputas entre os “nintendistas” e “seguistas” ficavam basicamente no campo ideológico. Para quem discordava, sempre existia a via diplomática de um belo combate. O campo tinha de ser neutro, como o de uma locadora. O videogame também, como o Neo Geo. É verdade que muitas discussões eram apenas desculpas para jogar no console da SNK. O Neo Geo era a utopia de qualquer jogador da época, ainda que não soubesse o significado da palavra. Um único jogo custava mais de U$ 200. O que, convertido para a moeda brasileira da época, dava um valor entre algo impossível e a retenção perpétua de sua mesada, para os mais abastados.

Depois disso as coisas se profissionalizaram. O Playstation veio e levou os jogos para um outro patamar. Os games tridimensionais viraram mania. Clássicos de luta como Street Fighter II perderam seu encanto para os mais novos. Hoje, as gerações de consoles não se classificam mais pelos seus “bits”. Jogos em cartuchos viraram peças de museu. Criou-se uma poderosa indústria. E, dizem alguns, nem as televisões estragam mais.

Fonte: Gazeta do Povo
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Eu comecei com um CCE Dactar. Meu pai troxe um dia, tinha trocado numa eletrônica por um som velho. Lembro que na época meu Tio ficou tão empolgado que comprou um para ele.

Pena que aquele não durou muito. As fitas não encaixavam direito e acabei quebrando a placa mãe do console. Acabei ficando com o do meu tio, que vinha até em casa para jogar comigo.

Eu comprava aquelas fitas multi-jogos, cheias de seletores de combinação por uma pechincha, numa "executiva de fronteira" que tinha perto de casa. Lembro até hoje das disputas que haviam no Enduro e no River Raid, para ver quem chegava mais longe.

Depois do Atari acabei ganhando um Dynavision 3 - Radical, com pistola e tudo. Esse eu não tinha muitos games, pq era meio caro, mas meu tio foi lá, fez ficha na VideoLux e me colocou de dependente. E foi aí que tudo começou de verdade.

Quando o Dynavision quebrou, na mão da minha irmã, no meio de um jogo do Brasil, eu quase tive um troço.

Foi aí que eu virei rato de locadora. Dias depois o Júlio estava abrindo a Starfox perto de casa e eu voltei a jogar. Acabei virando da casa e as vezes jogava na faixa, com ele.

Acabei ganhando depois um Snes e voltei a entrar em contato com a Executiva de Fronteira. Nessa época eu já fazia os meus rolos nos VTs e no Dinheiro do Almoço e acabei tendo um bom número de fitas. Foi nessa época que eu acabei virando o Top 3 da locadora ;)

Como foi meu tio que me fez gostar disso e acabou com minha vida, resolvi me vingar e coloquei o filho dele no mesmo caminho. Fiz a cabeça dele e o tio acabou comprando o Snes. Nessa época, o Eduardo tinha 5 anos mas já prometia encrenca da boa.

Com a grana do Snes eu rachei com minha mãe o N64. Que tinha as fitas horrorosamente caras. E eu voltei para o Top3, com minhas 4 locações semanais. Era engraçado. O cara da locadora comprava as fitas, e alugava para mim, mesmo antes de cadastrar. Eu testava as fitas, pq ele não tinha um N64. Depois eu tinha que contar para ele o que tinha achado. Nessa época cheguei até a fazer um site para a locadora, mas o projeto acabou não decolando.

Tentei vender o N64 para o eduardo, mas ele já tinha comprado o PSX (que rende até hoje boas lutas no tekken 3 e no Street Alpha 3, né piá?). Então acabei vendendo ele para um outro conhecido.

Só para me arrepender e um ano depois comprar um de volta e me entupir de fitas, que estavam super baratas no ML. Uma fita original (mesmo q usada) por menos de 30 pratas é o sonho de qualquer gamer.

Um tempo depois resolvi acabar com outra vida. E comprei um Cubo com o Elfo, em sociedade. Mamãe advertiu dizendo que não ia dar certo. Ela tinha razão. Ou quase. Não que a gente tenha brigado ou discutido como ela previu, mas o tal videogame acaba com a vida da gente, rapaz.

Essa história de VideoGame e Namorada - ela até joga comigo e eu dou graças por ela gostar da coisa ;) inclusive, chega a ser melhor do que eu em alguns jogos - e Amigos e Faculdade e Trabalho e Familia e Projetos Pessoais não dá certo.

Sem contar que acaba com a minha grana.

Mas eu me divirto Hororres... Ô...